Haverá oposição entre oração e apostolado? Fiz-me esta pergunta quando preparava a homilia de um destes domingos. O Evangelho transportava-nos para Betânia, à casa de Marta e Maria, irmãs de Lázaro e amigas do Jesus. Maria, aos pés de Jesus, «ouvia a sua palavra», enquanto Marta estava comprometida em muitos serviços. Uma primeira nota: cada uma a seu jeito ofereceram hospitalidade ao Senhor que estava de passagem.
Naquela casa é criado a Jesus um espaço e um tempo para estar e falar. E Jesus corresponde fazendo de si próprio um espaço para aquelas mulheres. E elas aprenderam a criar um espaço para O escutar. Segunda nota: é no dar um pouco de tempo e um pouco de coração para a escuta que começa uma relação. Importa, todavia, dizer que Marta e Maria não são imagem de duas vidas que se opõem: a vida de oração e a vida de compromisso. Não! Elas, isso sim, são duas faces de um único amor: diferentes mas sempre irmãs, jamais inimigas ou adversárias. Maria sentada aos pés de Jesus saboreia as suas palavras e alimenta-se da sua presença. Marta, por seu lado, preocupada em que nada falte, agita-se o que leva Jesus a chamar a atenção a Marta, pois o importante não é tanto o que faço mas o que Deus faz por cada um. Terceira nota: Interioridade e compromisso são dois aspectos essenciais à vida cristã.
Marta não pode ser sem Maria, pois é estéril o amor que não se inicia e não termina na contemplação do mistério de Deus. Nem Maria pode passar sem a Marta, porque não há amor de Deus que não se traduza em gestos concretos. Última nota: oração e ação nunca devem ser separadas, mas, sim, vividas em profunda harmonia.
Julho 2016
Pe José Lopes Baptista